terça-feira, 6 de julho de 2010

MEU PRIMEIRO DIA NO MESTRADO

Era apenas uma ala inaugural, mas quase virou minha aula final. O professor apresentou toda a estrutura do mestrado e os desafios. Eu não cansava de olhar a porta, imaginando qual seria o momento em que eu iria embora. Perguntava-me o que fazia ali. Eram diretores, gerentes, empresários, e eu ali, um simples analista de contabilidade de uma empresa de telecom, que acabava de mudar de área, deixando de ser líder, para ser mais um buscando espaço numa nova área.

Todos tem uma história para contar, de desafios, tragédias, tristezas e superações. A minha não é muito diferente das demais. Acho que nunca passei fome, mas lembro das muitas dificuldades que vivemos. No café da manhã era metade de um pãozinho. Pelo menos tinha margarina. No almoço era metade de um ovo frito, bem pequeno, pois era o que dava para minha mãe comprar com o pouco que papai deixava em casa. Era papai, mamãe, meu irmão, minha irmã e eu. E nem dava para pedir minha gema mole. Quando eu cursava a primeira série aconteceu um fato que nunca mais vou esquecer. Quem sabe um dia coloco em minha autobiografia. Como você sabe, as crianças são motivadas a fazer vários trabalhos artezanais em datas festivas, como dia dos pais, feriados, entre outros. Era próximo ao dia das mães e a professora deu uma lista de coisas para levarmos para fazer o brinde na sexta-feira para mamãe. Eu levei o mais fácil. Aliás, o que tinha em casa: uma colher de pau. Enquanto meus colegas compraram uma colher de pau para fazer o presentinho da mamãe, eu levei uma bem usada, surrada e parecia que faltava um pedaço na cabeça. Olhava para alguns coleguinhas e eles fizeram um porta retrato com palitos de sorvete. O meu presente era uma flor meio torta e vesga, naquela colher de pau horrorosa. Fui correndo para casa, pois queria presentear minha mãe. Eu era uma criança mirrada, magrinha e cabeluda. Os vizinhos falavam que eu era lindo e acredito nisso até hoje. Entrei portão adentro e parei na porta da sala. Minha mãe parecia que já esperava-me. Entreguei-lhe a flor de papelão colada naquela colher de pau. Ela olhou e sem dirigir-me o olhar arrancou o papelão colado na colher e foi para cozinha. Acho que o arroz ainda não estava pronto.

No mestrado apenas eu morava longe. Uns moravam no Leblon, outros em Ipanema, Barra, Recreio e Tijuca. E eu em Realengo, conhecida apenas por Gilberto Gil que precisou de uma rima para Flamengo, ou Jorge BenJor que cismou que meu bairro fica logo depois de Engenho de Dentro. São muitas estações depois. Na hora em que cada um apresentou seu histórico e currículo, escondi o meu. Fiquei com medo de acharem que eu queria aparecer. Fiz uma faculdade de Ciencias Contábeis, Pós em Contabilidade Tributária, Contabilidade Gerencial, MBA no IBMEC e agora o mestrado naquela mesma instituição. Você deve está se perguntando como posso ter feito tanto depois do histórico de pobreza que contei. Bom, quando eu falar do segundo dia de mestrado conto mais sobre isso.

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