quinta-feira, 8 de julho de 2010

HISTÓRIAS TRISTES

Hoje foi um dia diferente. Passei uma semana meio baixo astral, uma excessão em minha vida. Normalmente sou uma pessoa alegre, que ri dos próprios problemas. Um desses chatos que vivem alegres por nada e riem de tudo, como se felicidade fosse algo simples e que pudesse ser comprado ali na esquina, junto à barraquinha de doces. Bom, o que aconteceu foi o seguinte: na semana retrasada bati com o carro, meio imprudência minha, meio do outro motorista. Eu, um ingênio, inocente e imaturo, nem quis discutir o assunto e fui embora para o trabalho na mesma hora, de manhã. Fui triste, aborrecido. O pior foi passar o final de semana sem ele. Foram quase duas semanas sem carro, onde tive que voltar a andar de ônibus, trem e van. Não que eu seja metido, ou algo do gênero, mas o conforto de um carro, mesmo com o engarrafamento das ruas do Rio em suas manhãs, são quase que insubstituíveis. Ainda por cima fiquei sem notícias da mulher que vem me encantando nos últimos 30 dias. Ai que saudades de Dorothéa!!!

Voltemos ao dia de hoje. Minha gerente pediu que eu iniciasse uma entrevista de um candidato, pois ela estava muito ocupada e só poderia aparecer no final. Chamei dois colegas, a Camila (lembra da história do Wii?) e o Rogério. Deste último contarei boas histórias nos próximos dias. E fomos nós três entrevistar o Fred. Este rapaz tem 23 anos, contador, mora sozinho. O currículo é excelente, com uma grande história de vida. Começou a trabalhar num desses programas de assistência, que colocam os menores em empresas para que tenham o primeiro contato com o mercado de trabalho. Ele começou com 17 anos na Xerox, conheceu a contabilidade num dos material que tirava cópia para um departamento e apaixonou-se. Realmente é uma história muito boa, mas a saída da última empresa e a decisão de morar estavam mal contadas e com algumas lacunas. Eu, como entrevistador, o questionei, colocando-o em situação desconfortável. Ao final da entrevista fui questionado pelo Rogério por eu ser tão inciso nestas entrevistas e entar tão a fundo na vida pessoal dos candidatos. Fiquei com isso na cabeça e na hora do almoço surgiu o assunto Bruno.

Por mais que eu tente, não consigo encontrar justificativas para o caso do goleiro. Tendo culpa ou não. nada justifica tudo isso. Histórias tristes todos tem, mas o que fazemos com ela é que é o grande "xis" da questão. Nasci em 1975 numa família muito humilde. Meu falecido pai era motorista de ônibus e minha mãe dona de casa. A nossa casa foi terminada (ainda está sendo) ao longo dos anos. Com o passar do tempo meu pai largou a profissão de motorista e virou marceneiro, um grande talento. Com o tempo os problemas de seu sistema nervoso foram agravando-se, principalmente depois de seu encontro com a bebida, neste caso, a cerveja. Eu apanhei muito quando criança, daquelas surras de não sair de casa. Lembro que uma vez fiquei em casa uma semana, sem ir ao colégio, pois estava muito marcado. O tempo passou e fui trabalhar numa merceária próximo à minha casa. Lá fiquei dos treze aos dezenove anos. Foram anos fantásticos, onde aprendi muito e conheci todo o tipo de pessoa. Uma pena que quase todo o dinheiro ia para casa para comprarmos comida. Depois consegui fazer uma faculdade graças ao Creduc e ainda duas pós e um MBA, finalizando com o Mestrado que estou cursando. Por toda a história triste que esse goleiro esteja vivendo, nada justifica. Eu tenho a minha e nem por isso meu caminho foi desviado.

Em certo momento o Fred disse que morava numa cumunidade carente, o que pra mim pouco importava. Não me impressiono pela histórias tristes, tenho a minha. O que me impressiona é a história alegre que vem em seguida. Rogério ficou tão impressionado com a história de Fred, que questionou-me por eu ser tão inciso, tão duro em minhas perguntas. Eu queria ver nos olhos de Fred os mesmos brilhos nos olhos que eu tinha quando comia metade de um ovo no almoço. Queria que o Fred me dissesse que queria ser gestor, algo que eu queria ser antes dos trinta e cinco. Era meu planejamento. Fui antes dos trinta (um da conta essa passagem também). Mas o Fred não me transmitiu essa confiança.

Depois fizemos um fórum com minha gerente. Todos gostaram do rapaz, menos eu. Coloquei meu ponto de vista, mas Rogério insistia em me criticar. Achava que fui duro, injusto e outros adjetivos que não lembro. Mais tarde fiquei sabendo com mais detalhes da história de Fred e vi que na verdade ele apenas não soube se vender. Fred com certeza vai escrever uma história muito bonita. Negro, morador de comudade carente, um dia será um case de sucesso, destes que são tema de estudos em turmas de mestrado.

Hoje foi um dia que resolvi contar parte de minha história de vida, algo que não fazia há muito tempo. Foi um dia que fiquei revoltado com toda essa história do goleiro. Hoje foi o dia em que quase chorei em lembrar de minha história. Hoje foi o dia em que relembrei porque sou tão feliz.

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