segunda-feira, 27 de setembro de 2010

IGREJA VIRTUAL 2

Outro dia fui surpreendido pelo Jornal da Globo, que apresentou uma matéria sobre a internet e a religião. No dia 27 de junho postei sobre este assunto (http://avidasempreaconteceaqui.blogspot.com/2010/06/igreja-virtual.html). Lá eu imaginava como seria relação do homem com Deus na era da internet. Era para ser apenas uma brincadeira, pois acho que a ELE está no coração do homem. Achava que a tecnologia tiraria a humanidade desta nossa relação com ELE.
E não é que as pessoas estão acendendo até velas virtuais? Não consigo imaginar alguém acender uma vela virtual e fazer uma prece, também virtual, num clique de um botão. Relembrei que em minha infância minha mãe subiu as escadarias da Igreja da Penha para pagar uma promessa. Foi seu estômago que estava curado depois de uma gastrite. Ela comprou uma vela no formato do órgão e subimos a escadaria para acender lá em cima. Hoje ela não precisaria deste esforço. Bastaria clicar e tudo pronto. Graças a DEUS ela ainda não tem habilidade com a tecnologia. Pode ser que eu esteja enganado, mas ainda acho que ELE prefere as coisas à moda antiga.

ROÇA

Outro dia fui à universidade Rural, em Seropédica, e me surpreendi o quanto o Rio é grande e como ainda temos lugares onde parece que Deus descansou e o homem com sua modernidade ainda estão distantes. Tudo começa pela estrada de acesso. Acho que é a Rio-São Paulo, toda esburacada e cheia de quebra-molas. Aliás, não sei por que tantos quebra-molas. Nem precisava devido a tantas crateras no decorrer da via. Na volta, a noite, a 50 km por hora, peguei um quebra-mola que mais parecia um muro, de tão alto. Meu carro voou e aterrissou logo em seguida.
Outra coisa que me chamou a atenção é imaginar o perfil dos residentes da Rural. Meus caros, a Rural fica no meio do nada e longe de tudo. O seu ponto de referencia é a Dutra, na altura de SP. Fiquei imaginando alguém fazendo um pedido ao Habibs e pedido para entregar em 28 minutos, conforme a promoção. Neste dia vi um entregador de PIZZA. Acho que a encomenda foi deita com 6 horas de antecedência. O que importa mesmo é a que a PIZZA chegou. Um pouco remexida, pois provavelmente o motoboy pegou mesmo quebra-mola que eu.

domingo, 19 de setembro de 2010

RECÉM NASCIDO

Na semana passada fui pegar no hospital a esposa e o filho de um amigo que acabara de nascer. Por coincidência foi o mesmo hospital em que meu pai morreu. É claro que a sensação foi péssima. Entrar no hospital em que hesitei visitar meu pai no dia dos pais e que na mesma semana faleceu mexe com qualquer um. Outro motivo é que não gosto de hospitais. A sensação é ruim, vemos coisas que nos deixam muito impressionados, mesmo as mais positivas, como o cadeirante que aguardava na sala de emergência. Num primeiro momento pensei que o atendimento era para aquele homem, negro, magro, com a aparência de origem humilde. Pensei até de perguntar-lhe sobre seu problema e se precisava de alguma ajuda. Eis que surge da sala de emergência uma cadeirante. Ela deu-lhe um sorriso e fez um sinal, como se dissesse que está tudo bem. Ele retribuiu com um gesto de carinho, uma expressão de alívio. Lembrei de minha mãe e seu amor pelo meu pai. Questionei-me sobre o verdadeiro significado do amor e suas formas e conseqüências.
Fomos até o décimo segundo andar. Era a ala da maternidade. É confortante e ao mesmo tempo estranho lhe dar com a vida assim, em seu momento de nascimento. É estranho percorrer um corredor de alas e perceber que no mesmo local onde a morte caminha em passadas pesadas, a vida também percorre, de forma tranqüila e serena. As duas volta e meia se esbarram, medindo forças, buscando o equilíbrio. Num dia treze de agosto, de um ano que não lembro esbarrei com a morte em um daqueles corredores, quando meu pai se foi, mas naquele domingo doze de setembro de 2010 esbarrei com a vida. Era um pouco feinha, pois tinha cara de joelho. Todo recém nascido é feio, vamos combinar. Essa coisa de dizer que é bonitinho e coisa e tal é conversa. Acho que algumas crianças quando crescem ficam bonitas (não sei é meu caso), mas achar que um recém nascido, de dois ou três dias é bonitinho é um pouco demais. Outra coisa fascinante no nascimento é como a mãe sabe que aquele ser, feinho e com cara de joelho sabe que esse filho é dela. Pelo cheiro? Pelo toque? Não sei e acho que nem a mãe sabe. Ela simplesmente sabe. É o amor em forma de vida.
Neste dia vi casais de todos os tipos. Classe média a pobre, mais alta, sei lá. Mas ali naquele ambiente não há distinção. É um hospital público que não se diferencia o preto do branco. Na emergência, no momento do nascimento, todos são iguais. O engraçado é que todas as mães fazem amizades, trocam telefones e prometem que serão convidadas para festa de um ano de seus filhos. É claro que nada disso acontecerá. Saiu do hospital todos são diferentes novamente. Voltam a pertencer às classes sociais de origem. Voltam a ser pretos e brancos. Voltam a ser humanos. As crianças não saberão, mas um dias elas foram iguais as outras. Todos com caras de joelhos.
Fazia tempo que eu não escrevia. Não por falta de assunto, mas talvez pela falta do próprio tempo, que agora é consumido pelas minhas estripulias do mestrado e os conflitos financeiros que me cercam. Não é fácil pagar o mestrado. Tenho que me apertar aqui, ali. Há espaço para as economias burras, mas devem ser feitas. As vezes acho que voltei ao tempo em que comia metade de um ovo frito no almoço.
Primeiro cortei o carro. Eu ia de carro todos os dias e decidi ir apenas aos dias de aula do mestrado. Nos dias sem aula voltei a pegar trem. Confesso que nem lembrava mais como era. Ir e voltar ao trabalho todos os dias de carro é muito cômodo. Eu nem esquentava para engarrafamentos. Calor? Ar condicionado ligado durante as quase duas horas de trajeto da minha casa ao trabalho. Acabou o conforto.
Cortei vários gastos e supérfluos. Agora está difícil sair como antes. Virar noites é muito raro. Chamar aquela menina para sair todos os finais de semana está muito complicado. Há finais de semanas (quase todos) que não dá para sair mesmo, pois simplesmente acabou o dinheiro. Hoje ele acaba antes de começar o mês. O complicado é encontrar uma mulher que entenda isso.
Não é fácil realmente essa vida de mestrando. São muitos sacrifícios e obstáculos. Além da falta de dinheiro tenho que enfrentar minha dificuldade com a língua inglesa. São muitos artigos em inglês e muitas vezes acho que não vou suportar. Resisto porque sou guerreiro e não sou de desistir de uma briga, mas confesso que é complicado abrir mão da vida social durante os próximos dois anos, não pela falta de tempo, e sim pela falta de dinheiro mesmo. Tenho 34 anos e tudo que fiz até aqui foi com sacrifício. Por mais que meus pais quisessem, nunca puderam me dar o conforto que achavam necessário. Tudo o que tenho acabei conquistando, com muito suor. Foi complicado estudar numa faculdade privada, sem nome e receber vários “nãos” nas procuras de emprego. Lembro que em determinada época eu só tinha dinheiro para sair uma vez no mês com a namorada na época. Uma vez apenas. O resto do mês era vendo Faustão. O tempo passou e parece que voltei no tempo. Acho que estou vivendo esta época novamente e desta vez sem namorada.
Um dos poucos confortos que ainda mantive foi o tênis. Disseram-me para não cortar pois eu precisaria de uma válvula de escape. Realmente já estou precisando.

PROFISSÕES (CONTINUAÇÃO)

Antes que orem que eu queime no mármore ou algo parecido, vou ratificar meus sentimentos por Seropédica e a agronomia. Adoro ambos. Acho sua existência de suma importância. Hoje assistimos o crescimento da participação dos agrônomos em diversas áreas. Ora, a mãe natureza está respondendo aos excessos do homem, mudando o clima em todos os lugares. O que antes dava em uma terra, agora não dá mais. E a discussão sobre os transgênicos e os alimentos sem agrotóxicos. Só a agronomia para nos salvar.
Não vou mais discutir sobre a vocação de um agrônomo. É algo inexplicável. Nem Freud seria capaz de colocar-se na mente de ser e descobrir porque esse gosto por húmus e minhocas. Pior é estudar em cativeiro, longe de tudo e perto de nada. Duvida? Vá para Seropédica.
Não posso deixar passar as boas impressões que tenho da Rural. Há muitos alunos que são donos de fazendas e outros que o pai é apenas um pedreiro numa comunidade qualquer no subúrbio do Rio, mas todos são iguais. Não há diferenças. Morar longe da família é complicado. Dividir espaços com pessoas que você nunca viu antes e ficar longe do conforto da família é mais complicado ainda. Só mesmo o carinho, afeto e companheirismo para superar tudo isso.
Há profissões mais estranhas ainda. Veja o caso do advogado. Embora sua vocação seja fácil de ser explicada, pois toda criança mente, o que leva uma pessoa a defender o indefensável. As vezes vejo casos crimes onde todas as provas e argumentos levam ao veredito de culpado, mas lá está o advogado defendendo o indefensável.
Outras profissões estranhas são algumas especialidades médicas. Genicologista por exemplo. Tudo bem, que aquela região é alvo de todo fascínio masculino, mas não consigo tecendo teorias sobre a região o dia todo. E a prática. Pior deve ser o urologista. Não quero nem imaginar de onde saiu esta vocação.

PROFISSÕES

Esses dias conheci uma agrônoma, super interessante por sinal. Bonita, inteligente, dona de um par de lábios envolvente. Meiga e carinhosa. Mas não é dela que vou falar no momento. Eu sei que você está mais interessando nas minhas desventuras amorosas, mas queria discutir com você sobre o que nos leva a escolher determinadas profissões.
Quando criança eu pensava que seria cantor de rock, jogador ou aviador. Nunca imaginei como Contador, envolvido em uma montanha de números e legislações. Nenhum herói da TV é contador. Nas novelas quando aparece o contador, ou ele é o vilão, ou faz parte do núcleo mão. Quando o contador aparece na novela das oito, pode ter certeza, será ele o responsável pela miséria da família do mocinho. E no final da novela o contador morre esfaqueado por outro vilão do núcleo maligno. Só lembro-me de um contador “mocinho”. Ele apareceu no filme “A Lista de Schindler”. No enredo do filme ele era o responsável pela salvação dos judeus, pois incluía seus nomes na lista de empregados de Schindler, que era o dono da fábrica. Mas esse contador era careca, magricela, feio. Nada haver comigo, que sou cabeludo e um pouco fora de forma.
Não me lembro de ter muitas mulheres bonitas nas minhas turmas na faculdade. As bonitinhas que começaram o curso, concluíam o primeiro ano e migravam para administração logo em seguida. Lá sim, era o templo da beleza. Confesso que também pensei em mudar de curso, mas minha beleza (falta dela, né) não me deu coragem de concluir este desejo.
O que leva uma pessoa a descobrir que tem vocação para fazer agronomia? Por mais que tenha brincado na terra, com as plantas da vovó, nada justifica a vocação para ser esse jardineiro metido a besta, que fala em melhoramento de terra como se fosse a coisa mais banal do mundo. Essa menina que conheci (fantástica por sinal), falava de efeito estufa e melhoramentos com uma simplicidade que me impressionava. Ela tinha brilho nos olhos. Realmente sua vocação é a agronomia. Fiquei imaginando sua infância sendo questionada pelos pais, interessados na sua vocação e seu respectivo desespero e pavor ao descobrir aonde ela teria que estudar. É simples explicar esse desespero. No Rio de Janeiro a faculdade Federal que possui esse curso é a Rural. Para quem não sabe a Rural fica em Seropédica, que é longe de tudo e perto de nada. Acho que os agrônomos devem ser seres tão loucos que precisam ser criados longe da civilização, por isso escolheram Seropédica, cuja estrada de acesso é cheia de quebra molas. Nem precisa pela quantidade de buracos. A origem do nome da região vem da fazenda Seropédica do Bananal de Itaguaí, cujo proprietário chamado Luiz de Resende que, por volta do ano de 1875, produziu cerca de 50 mil casulos de bichos de seda por dia. Essa definição achei no Google. O que bicho de seda tem haver com agronomia? E por que não colocaram o nome de Rezende, em homenagem ao antigo dono da fazenda? Para quem não sabe (eu também não sabia) Seropédica vem de um neologismo formado por duas palavras: uma, de origem latina, sericeo ou serico , que significa seda, e outra, grega, pais ou paidós , que significa tratar ou consertar. Um local, portanto, onde se cuida ou se fabrica seda. Novamente achei isso no Google. Mas o que fábrica de seda tem haver com agronomia? Nada contra Seropédica ou agronomia, não é isso. Até gosto de Seropédica, embora prefira evitar. Gosto também de agronomia, principalmente as agrônomas, mas ainda não encontrei a relação entre ambos.
Minha relação com a agrônoma, digo, agronomia, vem de antes dos dias atuais. Meu falecido pai, mineiro de Itaperuna (que é no Rio, mas ele dizia que era mineiro, então fico com as palavras dele), gostava de assistir ao Globo Rural. Como só tinha uma TV em casa, é lógico que a preferência era dele, até porque o controle remoto ficava em suas mãos. Confesso que não entendia direito aquela conversa de húmus e minhoca. Ainda bem, caso contrário teria que estudar em cativeiro lá em Seropédica.