domingo, 19 de setembro de 2010

RECÉM NASCIDO

Na semana passada fui pegar no hospital a esposa e o filho de um amigo que acabara de nascer. Por coincidência foi o mesmo hospital em que meu pai morreu. É claro que a sensação foi péssima. Entrar no hospital em que hesitei visitar meu pai no dia dos pais e que na mesma semana faleceu mexe com qualquer um. Outro motivo é que não gosto de hospitais. A sensação é ruim, vemos coisas que nos deixam muito impressionados, mesmo as mais positivas, como o cadeirante que aguardava na sala de emergência. Num primeiro momento pensei que o atendimento era para aquele homem, negro, magro, com a aparência de origem humilde. Pensei até de perguntar-lhe sobre seu problema e se precisava de alguma ajuda. Eis que surge da sala de emergência uma cadeirante. Ela deu-lhe um sorriso e fez um sinal, como se dissesse que está tudo bem. Ele retribuiu com um gesto de carinho, uma expressão de alívio. Lembrei de minha mãe e seu amor pelo meu pai. Questionei-me sobre o verdadeiro significado do amor e suas formas e conseqüências.
Fomos até o décimo segundo andar. Era a ala da maternidade. É confortante e ao mesmo tempo estranho lhe dar com a vida assim, em seu momento de nascimento. É estranho percorrer um corredor de alas e perceber que no mesmo local onde a morte caminha em passadas pesadas, a vida também percorre, de forma tranqüila e serena. As duas volta e meia se esbarram, medindo forças, buscando o equilíbrio. Num dia treze de agosto, de um ano que não lembro esbarrei com a morte em um daqueles corredores, quando meu pai se foi, mas naquele domingo doze de setembro de 2010 esbarrei com a vida. Era um pouco feinha, pois tinha cara de joelho. Todo recém nascido é feio, vamos combinar. Essa coisa de dizer que é bonitinho e coisa e tal é conversa. Acho que algumas crianças quando crescem ficam bonitas (não sei é meu caso), mas achar que um recém nascido, de dois ou três dias é bonitinho é um pouco demais. Outra coisa fascinante no nascimento é como a mãe sabe que aquele ser, feinho e com cara de joelho sabe que esse filho é dela. Pelo cheiro? Pelo toque? Não sei e acho que nem a mãe sabe. Ela simplesmente sabe. É o amor em forma de vida.
Neste dia vi casais de todos os tipos. Classe média a pobre, mais alta, sei lá. Mas ali naquele ambiente não há distinção. É um hospital público que não se diferencia o preto do branco. Na emergência, no momento do nascimento, todos são iguais. O engraçado é que todas as mães fazem amizades, trocam telefones e prometem que serão convidadas para festa de um ano de seus filhos. É claro que nada disso acontecerá. Saiu do hospital todos são diferentes novamente. Voltam a pertencer às classes sociais de origem. Voltam a ser pretos e brancos. Voltam a ser humanos. As crianças não saberão, mas um dias elas foram iguais as outras. Todos com caras de joelhos.

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